dezembro 27, 2006

Tradición y Vanguardia



Picasso recurre en numerosas ocasiones a El Greco, uno de sus pintores preferidos, en un regreso a sus raíces españolas. Lo hizo en la pintura, como en estos grabados, y lo hizo en una obra literaria titulada precisamente “El entierro del Conde de Orgaz”.
Picasso admiraba la obra de El Greco, especialmente el cuadro
'
El entierro del Conde Orgaz', cuadro al que dedicó este libro, que compuso entre 1957 y 1959 cuando Picasso ya andaba metido en los 80 años




dezembro 18, 2006

Albert Gleizes - O Cubismo em Majestade

Após um curto período impressionista, por volta de 1900, Albert Gleizes (1881-1953) dedica-se sobretudo ao desenho. O seu estilo, inicialmente simbolista, evolui para uma extraordinária síntese das formas que inaugura novos caminhos. No “Salon des Indépendants” de 1911, Gleizes participa juntamente com Jean Metzinger, Robert Delaunay e Fernand Léger no escândalo do Cubismo, revelado pela primeira vez ao público.





Os quadros enviados por Gleizes para os "Salons de Paris" até à Guerra de 1914, tais como La Femme aux phlox, Les Joueurs de football manifestam, de forma brilhante, as ambições do pintor, no momento em que Guillaume Apollinaire vê na “majestade”, “o que antes de mais caracteriza a arte de Albert Gleizes”.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Gleizes, que se encontra mobilizado na Lorena, aprofunda as suas experiências construtivas e volta-se para a abstracção. Em Nova Iorque, onde viria a refugiar-se, o seu estilo evolui para uma interpretação dinâmica e energicamente colorida do Cubismo. De regresso a França, em 1919, Gleizes torna-se no principal defensor de uma abstracção depurada, animada pelas “translações” e “rotações” de planos coloridos.





La majesté, voila ce qui caractérise avant tout l'art d'Albert Gleizes. Il apporta ainsi dans l'art contemporain une émouvante nouveauté.
On ne la trouve avant lui, que chez peu de peintres modernes. Cette majesté éveille l'imagination, provoque l'imagination et considérée du point de vue plastique elle est l'immensité des choses.


Guillaume Apollinaire
Les Peintres cubistes, 1913



Portrait d'un médecin militaire, 1914–15

Nos anos 30 e 40, Gleizes dedica-se à execução de cenários monumentais. Particularmente influenciado pela pintura romana, empenha-se também em renovar a expressão do sagrado. No fim da vida, Gleizes confirma o seu gosto pela abstracção, ganhando o seu desenho uma grande liberdade formal.

dezembro 08, 2006

Como a maioria de nós...



Quando em 1967 percorri algumas cerâmicas propondo a realização desta Chávena, a recepção era a mais hostil, como se lhes estivesse a propor a obscenidade das obscenidades.

Não quero deixar de lembrar que, tendo enviado ao Areal uma fotografia desta Chávena, ele sobre essa fotografia pintou, em 1971, um líquido tinto de sangue, de onde lutam para se evadir dois terríveis personagens.

Somos obrigados a reconhecer que as palavras não são suficientes para DIZER o homem. E a sua insuficiência tem-se tornado dramática; resta-nos a poesia, a revolta, a blasfémia, a liberdade interior!

Embora seja enormíssima a parte de humor expressa no Objecto Surrealista, será prudente que ninguém se deixe ficar apenas por aí. Essa é por certo uma das armadilhas que nos põe esta superior forma de comunicação. De facto o Objecto Surrealista está sempre pleno de humor negro, e foi dentro desse espírito que pus a circular a seguinte frase: Chávena com a asa por dentro, como a maioria de nós…


Cruzeiro Seixas

dezembro 05, 2006

fruto permitido

Em 1912, Guillaume Apollinaire apelidou de Orfismo o movimento criado pelos Delaunay, como ícone da transição do Cubismo para o Abstraccionismo.

Em 1964, Sonia Delaunay
foi a primeira mulher a expôr a sua obra em vida no Museu do Louvre. Morreu a 5 de Dezembro de 1979.




Sonia Terk-Delaunay est née en 1885 en Ukraine. Epouse du peintre Robert Delaunay, elle a mené avec son mari des recherches picturales s'attachant à explorer la lumière, le mouvement des couleurs, leur "contraste simultané". Dans leurs œuvres, les formes géométriques, colorées et vives, s'agencent en compositions rythmiques annonçant l'abstraction dont ils ont été parmi les pionniers. Pour elle, ces recherches, essentiellement instinctives, s'expriment dans la peinture pure mais aussi dans le domaine des arts appliqués, la décoration, la mode, domaines qu'elle estime répondre à la même quête artistique. Elle crée des tissus et des vêtements simultanés, elle réalise des collages, des reliures, des illustrations de livres de poèmes.




poema Caractères - 1956 de Tristan Tzara,
com desenhos de
Sonia Delaunay


yl y a une blanche servitude qui s`étend sur la fuite des temps
yl y a tout au long de son impulsion la dette de sang qui s`imprègne
yl y a un nuage un seul mais il pèse plus lourd que la terre sur l`inconscience des ans
yl y a dans l`aigreur des cris stridents de lait l`aiguille d`une voix qui monte tropicale
yl y a l`infatigable couture des arbres sur le parcours envenimé
yl y a une horreur indicible sur le front de ceux qui ricanent
yl y a pour le tremblement de montagne le cerf rebondi la tête hurlante l`oiseau à fusil
yl y a la feuillede mort dans l`iris de la pluie le regard de nervure et le foin pardonné
yl y a mille têtes en un chiffre et le remords à cloche-pieds
yl y a celui qui s`embrouille dans la poupre de ses propos de fil
yl y a la laine empoissonnant la cruche vide des crânes
yl y a ceux qui dans l`eau laissent tremper leurs subtiles savonneries de mémoire
yl y a l`étonnement stupide de tous ceux qui regardent qui ne font que regarder pendant le défilé de la vie des autres












L'exposition est centrée sur la période de "l'Atelier simultané", de 1923 à 1934, qu'elle a fondé pour créer et éditer des tissus simultanés, produire des vêtements et accessoires… Sonia Delaunay se consacre alors essentiellement à l'art vestimentaire, avec un grand succès. Si la plupart des motifs sont géométriques, elle sait en égayer la régularité de l'agencement par la sensibilité poétique de leurs formes éclatantes, lumineuses et toutes vibrantes du "chant sensuel de la couleur".



Até 25 de Fevereiro de 2007 na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva

novembro 28, 2006

preso pelo amor




Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!


gravura de Ruth Rosengarten, poema de David Mourão-Ferreira

novembro 26, 2006

A Intervenção Surrealista


Espero que os meus auditores compreendam que não sou um erudito nem um filósofo, mas, sim, um longo diálogo. Outro factor também antipelagroso é o centro sobre o qual se move o perpétuo turbilhão da poesia. Não devem esperar, tão-pouco, de mim, frutos colhidos num vasto campo de investigação científica. Por felicidade minha, o tema da Poesia ganha em valor, e em interesse, conforme a experiência dos indivíduos que seriamente crêem nas suas capacidades.

Mário Cesariny, 9-Agosto-1923 / 26-Novembro-2006

novembro 19, 2006

Frei Carlos e o Belo Portátil

De origem flamenga e tendo professado em 1517 no antigo Convento do Espinheiro, junto a Évora, o monge-pintor Frei Carlos foi uma das mais proeminentes e lendárias figuras da pintura retabular em Portugal nas primeiras décadas do século XVI e alguns dos grandes painéis que a sua oficina pintou para os altares daquele convento jerónimo são das obras mais apreciadas na colecção do Museu Nacional de Arte Antiga.


Mas se é nestes grandes formatos que a pintura do Espinheiro revela desde logo especial originalidade, demonstrando em tais registos uma invulgar capacidade de integração espacial dos elementos da imagem em situações narrativas, não deixa de ser nos pequenos painéis devocionais que se afirma com especial nitidez uma sedutora técnica de utilização da própria matéria pictural, sendo também por aí que melhor se reconhece a sua ascendência na inconfundível tradição flamenga.


Esta exposição considera essa particular vertente da produção criativa da Oficina do Espinheiro, a das imagens religiosas para contemplação, meditação e oração individual ou privada, pinturinhas portáteis ou de oratório privativo que, na cela monástica, estimulavam uma piedade afectiva na contemplação de figuras de Cristo, da Virgem com o Menino ou de S. Jerónimo no deserto.

O ponto de partida e fulcro do percurso expositivo é uma obra inédita de Frei Carlos recém-adquirida para a colecção do MNAA, uma belíssima representação do Ecce Homo (39,5 x 31 cm). Submetida a exames fotográficos e radiográficos, essa documentação sobre a peça é apresentada em termos comparativos com documentação congénere de outras pinturas de tipo devocional produzidas no Espinheiro.
A exposição procura assinalar, através de 30 pinturas de pequeno formato mas de grande qualidade, a extraordinária procura de imagens devocionais na Europa do final da Idade Média e início do Renascimento, correspondendo a uma certa expressão do sentimento religioso e a um incremento do pietismo individual nessa época. As obras são de autoria predominantemente flamenga e portuguesa e algumas das pinturas mais qualificadas provêm de colecções privadas, nunca ou muito raramente tendo sido expostas ao público.



Jesus Cristo está a chorar. Várias lágrimas, oito, escorrem-lhe pela cara. A luz incide sobre elas. Algum sangue surge entre os lábios. O novo Ecce Homo do Museu de Arte Antiga, uma pequena pintura, com 40 centímetros de altura e 30 de largura, é uma obra para se ver muito de perto.
Frei Carlos, o pintor monge do século XVI, fê-la exactamente a pensar nessa proximidade. Fê-la também a pensar que a pudessem levar de um lado para o outro, como um Livro de Horas. "As pessoas meditam, rezam, oram em frente a estas imagens. É uma devoção mais humanista.(...)





Finalmente, coroando uma das componentes iconográficas do percurso expositivo, apresenta-se também o painel Virgem com o Menino e Anjos (1536-38), da autoria de Gregório Lopes, que acaba de ser restaurado pelo Departamento de Conservação do MNAA.


Uma pintura do século XVI para rezar em casa
Isabel Salema - Público

Esta pequena exposição temporária junta 30 obras, 23 das quais são pinturas com esta dimensão pequena. "É essa tipologia de pequeno formato que dá à peça um carácter portátil." O quadro recém-adquirido pode ter sido pintado para um prior de um convento o utilizar e apreciar em privado. "Estas peças querem estimular um diálogo piedoso com o sagrado numa dimensão privada. É o que nos diz o Ecce Homo do ponto de vista material, mas não há lastro do ponto de vista histórico." Não se sabe de onde vem, a não ser que estava no século XIX na colecção privada de Jorge O"Neill, em Lisboa.
"Há um realismo sereno na figura. Tem o sangue a escorrer e está como se nada fosse. Mas não deixa de ser fortemente dramática, porque a associamos ao heroismo de Cristo. O diálogo emotivo concentra-se no olhar directo de Cristo, profundamente humanista." Essa intenção interpelativa, de experiência imediata com a divindade, tem também um carácter sensorial.





O mais poético dos luso-flamengos
Estas peças de devoção privada são o inverso dos grandes retábulos das igrejas - Frei Carlos pintou vários, alguns encomendados pelo rei D. Manuel I -, que podemos considerar a arte pública da época. Ao contrário dos retábulos, onde há uma narrativa detalhada, no Ecce Homo não há representação do espaço ou do tempo. Estas imagens de devoção privilegiam a figura de Cristo e da Virgem Maria, num retrato em busto ou meio-corpo.
Frei Carlos é uma das figuras lendárias da pintura portuguesa. José Alberto Seabra diz que a descoberta desta pintura "foi uma surpresa fortíssima". É "inconfundivelmente" um Frei Carlos no estilo e terá sido pintada na década em que esteve mais activo, os anos 20 e 30 do século XVI. "Tem essa característica dos bons pintores flamengos, como Van Eyck e Roger Van der Weiden: consegue um apurado realismo da forma e simultaneamente uma idealização poética. Junta o real com o ideal." As mãos é o que mais impressiona José Alberto Seabra no quadro. "Parecem as de uma Madona. Ele é o mais poético dos luso-flamengos."
Frei Carlos é entre os pintores três luso-flamengos da época - além dele há Francisco Henriques (o favorito do rei) e o Mestre da Lourinhã - o que melhor domina a perspectiva, uma visão racionalizada do espaço, como se vê nos retábulos. São estes três, aliás, os melhores pintores em Portugal no início do século XVI. Frei Carlos terá estudado em Bruges ou Antuérpia e vem para Portugal porque cá há trabalho.




O primeiro documento que se conhece sobre o monge-pintor é aquele que diz que professa no Convento do Espinheiro, em Évora, em Abril de 1517. "Eu Frei Carlos de Lisboa flamengo faço profissão..." Em 1540, sabe-se que terá morrido, porque outro documento refere o destino a dar ao espólio que estava na sua cela. Depois, várias crónicas falam-nos da sua fama como pintor.




Próximo da cidade de Évora, e bem no coração das vastas planícies Alentejanas, ergue-se o antigo e agora renovado Convento do Espinheiro, transformado num surpreendente hotel de luxoEste convento tem a sua origem numa lenda que relata a aparição da Virgem sobre um espinheiro. Em 1458, dada a importância deste local como destino de peregrinações, foi fundada uma igreja e posteriormente o convento que chegou a receber a visita de reis de Portugal.




"Ele tem uma produção em circuito fechado. Terá só feito obras para os conventos da sua ordem, a dos monges de São Jerónimo." O Espinheiro, mas também os Jerónimos em Belém, Santa Marinha da Costa em Guimarães ou a Pena em Sintra. A oficina de Frei Carlos, instalada no Convento do Espinheiro, é a única em Portugal, na sua época, que faz estas imagens de devoção, chamadas imago pietatis.
Nos Países Baixos, estas pinturas devocionais de pequeno formato são comuns desde o século XV. (...)

novembro 14, 2006

O desdém da mediocridade

AMADEO DE SOUSA-CARDOSO chegou a Paris em Novembro de 1906, alguns meses depois de Modigliani. Neste período, morria Cézanne, enquanto Picasso pintava «Les Demoiselles d`Avignon».
Em Montmartre, nos ateliers de boémia e miséria, começava uma nova época da pintura ocidental; Em Montparnasse, Amadeo procurava nos ateliers do Boulevard Raspail a admissão às «Beaux-Arts», no seguimento dos estudos iniciados em 1905, na Academia das Belas-Artes em Lisboa.


Desde cedo, Manuel Laranjeira, médico no Porto, exerceu grande influência, no plano intelectual e humano, na evolução do jovem Amadeo, a quem via nos verões da praia de Espinho, onde seus pais tinham casa. As tertúlias no Café Chinês, os passeios a dois e a troca de correspondência tornariam Amadeo seu confidente.

Manuel Laranjeira tinha perante a arte um sentimento de raiz literária da Renascença Portuguesa, entre névoas e saudades.

Este melancolismo não afectava Amadeo, antes lhe provocava desgosto pela futilidade da vida que levava; O tédio das cópias a carvão no casarão do Largo da Biblioteca, as caricaturas de professores e colegas, fraca compensação da mediocridade que deixara em Lisboa e Porto.

Fernando Pessoa chegava a Portugal , Santa-Rita pintava o «Orfeu do Inferno» e Almada Negreiros tinha dez anos de idade.



Amadeo, a quem Manuel Laranjeira vaticinara que «haveria de vencer, haveria de triunfar», desenhou o corpo do amigo enrodilhado numa cadeira de café, abandonado, escorregando, um braço estirado sobre o tampo, outro torcido para as costas da cadeira, as pernas magras torcidas e a trunfa negra saindo do chapeirão enfiado pela cabeça abaixo, boneco desarticulado, só de costas e à deriva do destino...






No verão de 1907, Amadeo abandonava os estudos na Escola de Arquitectura, enquanto confessava que, longe de ter perdido tempo por concluir não ter vocação, antes tinha alargado os seus conhecimentos artísticos , cuja utilidade se reflectia na sua evolução natural enquanto caricaturista.

Durante esse tempo, ia estudando os modelos da imprensa parisiense; Ao contrário de outros artistas portugueses que nesse período também estudavam em Paris, como Emmerico Nunes, Manuel Bentes, Acácio Lino, Alfredo Ferraz - modernistas e naturalistas - adquiria um traço mais sintético, de melhor definição formal, fruto da liberdade de quem não dependia dos desenhos para viver.

Na caricatura de 1910, juntamente com os colegas Manuel Bentes, Eduardo Viana e Emmerico, Amadeo é um rapaz empertigado, o busto envolvido numa capa que lhe esconde parte do rosto, um chapéu sobre os olhos, de pose espanholada.

Assim ele se via na autocaricatura; de peito arqueado e alargando os braços e as mãos enluvadas, caminhando nas pontas da botas para impor uma estatura que não era a sua.


Em noitadas de sacrifício a Baco, Amadeo, desnudano, fazendo peito, coroa de parras na cabeça e garrafas ao pé; a seu lado, Bentes, Alberto e Emmerico faziam figuração, repetindo poses dos «borrachos» de Velasquez.





in Amadeo & Almada, de José Augusto França - Bertrand Editora


Será porventura a Exposição mais importante do ano (para a Gulbenkian), pela importância da obra de Amadeo Sousa-Cardoso; Será que consegue rivalizar com esta?

outubro 20, 2006

Uma bela representação do feio

Uma beleza natural é uma coisa bela: a beleza artística é uma bela representação de uma coisa. Para avaliar uma beleza natural, enquanto tal, não preciso ter primeiro um conceito do que deve ser o objecto; isto é, não me é necessário conhecer a finalidade material (o fim), mas é a mera forma, sem conhecimento do fim, que agrada por si na mesma avaliação.
Mas, se o objecto é apresentado como um produto da arte e enquanto tal, então deve ser definido belo, assim como a arte pressupõe sempre um fim na causa (e na causalidade dela), em primeiro lugar deve ser posto como fundamento um conceito daquilo que a coisa deve ser; e assim como a concordância do múltiplo numa coisa por uma sua determinação interna como fim é a perfeição da coisa, na avaliação da beleza da arte deverá ter-se em conta ao mesmo tempo a perfeição da coisa, sobre a qual, pelo contrário, de modo nenhum se questiona na avaliação de uma beleza natural (enquanto tal).
- É verdade que na avaliação dos objectos vivos da natureza, por exemplo do homem ou de um cavalo, se torna ordinariamente em consideração a finalidade objectiva, para julgar da sua beleza; mas, então, o juízo já não é estético puro, isto é, mero juízo de gosto.




A natureza nunca é avaliada pelo facto de parecer arte, mas enquanto é efectivamente arte (embora sobre-humana); e o juízo teleológico serve ao esteta de fundamento e condição de que ele deve ter em conta. Com efeito, nesse caso, não se pensa, de facto, por exemplo, ao dizer: «Eis uma bela mulher», a não ser nisto:
a natureza representa de modo belo, na sua figura, os fins da compleição feminina;
na verdade, é preciso que se veja para além da mera forma, se vise um conceito, para assim se poder pensar o objecto mediante um juízo estético logicamente condicionado.
A arte bela mostra a sua excelência precisamente no facto de ela descrever de modo belo coisas que na natureza seriam feias ou desagradáveis.
As fúrias, as doenças, as devastações das guerras, etc., podem, enquanto coisas prejudiciais, ser descritas e até representadas pintando-as de maneira muito bela; mas uma espécie de fealdade não pode ser representada de modo conforme com a natureza sem destruir todo o comprazimento estético e, portanto, a Beleza artística, isto é, a que provoca desgosto.
De facto, nesta sensação singular que se fundamenta só na imaginação, o objecto é representado como se se impusesse à fruição, enquanto, pelo contrário, o repelimos violentamente; assim, a representação artística do objecto já não é distinta, na nossa sensação, da natureza do próprio objecto e, por isso, é impossível que seja considerada bela.


Immanuel Kant -
Crítica da capacidade de juízo
in História da Beleza, de Umberto Eco

outubro 07, 2006

agosto 15, 2006

Seurat, o novo impressionista

Quando Georges Seurat (1859-1891) apresentou Um Domingo à Tarde na Ilha de la Grande Jatte (1884-1886), foi aclamado como o expoente dos pintores neo-impressionistas.

Les bourgeois de Paris, que parecem em excursão numa das ilhas do Sena, são na verdade figuras estáticas, desligadas entre si, conferindo assim um teor muito estruturado à composição.




Durante cerca de dois anos fez mais de sessenta estudos para esta composição, meticulosamente elaborada com minúsculos pontos de tinta.

As cambiantes dos tons básicos - obtidas pela distância entre as manchas de cor e pelos contrastes criados pela delimitação das áreas - de alguma forma, representam o início do cubismo.

A técnica pontilhista de Seurat, atinge a plenitude num dos seus últimos trabalhos, Os Modelos, de 1887.





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agosto 09, 2006

a tradição já não é o que era



A expressão máxima de uma visão vanguardista da sensualidade, aqui.

agosto 02, 2006

En passant...



... ou como a progressão imprime movimento à côr.

julho 31, 2006

Ulises y las sirenas, de Picasso



A la vora del mar. Tenia
una casa, el meu somni,
a la vora del mar.

Alta proa. Per lliures
camins d’aigua, l’esvelta
barca que jo manava.

Els ulls sabien
tot el repòs i l’ordre
d’una petita pàtria.

Com necessito
Contar-te la basarda
que fa la pluja als vidres!
Avui cau nit de fosca
damunt la meva casa.

Les roques negres
m’atrauen a naufragi.
Captiu del càntic,
el meu esforç inútil,
qui pot guiar-me a l’alba?

Ran de la mar tenia
una casa, un lent somni.

excerto XXV do poema Cementiri de Sinera (1946)
do poeta catalão
Salvador Espriu

julho 23, 2006

Erro de cálculo


Nas Ramblas, em Barcelona.
O homem estátua gosta de ser fotografado... desde que lhe paguem.
O casal de ar britânico, pára. A senhora aponta a objectiva e dispara: uma, duas, três.
O homem estátua avança para ela, esfrega o polegar e o indicador: "peseta!"
A senhora sorri e afasta-se.
O homem estátua não acha graça, abre a mala e começa a disparar maçãs e laranjas.
Falha por pouco.
O senhor, volta-se e avança em passo decidido (vai dar-lhe um estalo, penso), tira-lhe os óculos da cara e vai-se embora.
O homem estátua fica sem a moeda, a provável refeição de fim de tarde... e os óculos.
"Pelo menos, se lhe tivesse acertado..."

julho 19, 2006

Santíssima Trindade, de Montoliu

Pintor da Coroa de Aragón, Valentí Montoliu trabalhou em Tarragona entre 1433 e 1447.
Seguidor do catalão Jaume Huguet, foi também autor do retábulo de San Abdón e San Senén de Villafranca del Cid.






Visão da Santíssima Trindade por São Francisco de Assis.
Atribuída a Valentí Montoliu (séc. XV)
Pintura sobre tábua
Catedral de Tarragona

julho 16, 2006

a menina dança?



Não sei se por ser a obra mais emblemática de los Picassos des Antibes, mas é a minha favorita.

O mar, com os tons do Mediterrâneo; O bailado da mulher, homenageada; O centauro e os faunos, todos familiares; tudo desperta felicidade, alegria.

No Museu Picasso, em Barcelona.

junho 28, 2006

Colecção Rau - Siberechts


A luz fria e cintilante das paisagens e cenas de género de Jan-Siberechts ( 1627-1703), deu lugar neste Gabinete de amador a uma luminosidade mais quente, acompanhada do característico volume redondo que normalmente conferia aos corpos.

O casal coleccionador, rodeado de obras de pintura e escultura, dispostas sem ordem nem sentido, inversamente ao mosaico do chão.

A Marinha, de cunho holandês, atribuida ao também pintor de Antuérpia, Peeters; A Ordenha, característica das paisagens de Siberechts, o retrato que o jovem segura lembra o retratista Thomas Key e a grande natureza-morta de frutos, caça, macaco e gato lembra Jan Fyt - quadros dentro do quadro - representam a evocação dos seus contemporâneos.

Os tons das esculturas antigas, das paredes e dos rostos, revelam a preocupação do autor com a luz nas cenas de interior;
Mas o que me fascina neste quadro é o espelho na parede, que reflete a mão da senhora e o pequeno fio dourado, reflexo de luz na beira da mesa.

Para observar este nível de detalhe que uma obra prima merece, ou exige, é impossível ver esta Exposição en passant, ainda que signifique ter de voltar uma e outra vez.
Ainda não passei da primeira de oito salas!

junho 23, 2006

Quartos Imaginários



Ponto de partida para a Exposição Quartos Imaginários de Nikias Skapinakis, na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, já aqui mencionada.

Composição sobre o desenho "Tin Tin et Gazelle", de 1964.

Na parede do lado esquerdo, as portadas da janela são réplicas das pinturas de "Mário de Sá Carneiro raptando Vieira da Silva", de 1972 e de "Homenagem a Fernando Pessoa Oculista", de 1957.

Na parede do lado direito, encontram-se representados António Maria Lisboa, Cezariny e André Breton.

Por cima, o marinheiro com o cravo, a partir de "Delacroix no 25 de Abril em Atenas".

junho 22, 2006

Fim-de-semana cultural



El Museo Nacional del Prado y el Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía conmemorarán el 25 aniversario de la llegada del Guernica a España presentando la exposición Picasso.
Tradición y Vanguardia en un año en que también se conmemoran los 125 años del nacimiento del artista.



Para evitar as intermináveis filas de acesso à Exposição, a compra antecipada de entradas na página do El Corte Ingléz será uma boa opção.
Até 3 de Setembro.

junho 15, 2006

Emulação da Música



A invenção da melodia, a descoberta de todos os mais íntimos segredos da vontade e da sensibilidade humanas, é obra do génio.
A sua acção é mais visível aí do que em qualquer outro lado, mais irreflectida, mais livre de qualquer intenção consciente; é uma verdadeira inspiração.
A ideia, quer dizer, o conhecimento preconcebido das coisas abstractas e positivas, neste ponto, como em toda a arte, é completamente estéril; o compositor revela a mais íntima essência do mundo e exprime a mais profunda sabedoria numa linguagem que a sua razão não compreende; tal como uma sonâmbula dá respostas claríssimas sobre assuntos dos quais, desperta, não conhece absolutamente nada.

in Pensamentos, de A. Schopenhauer




Período - Cubismo Analítico

junho 13, 2006

O Milagre de Santo António, de Francisco José de Goya

A liberdade de criação concedida pelo Rei Carlos IV a Goya ( 1746-1828), permitiu-lhe executar, de forma pouco convencional, a cúpula da Capela de Santo António, em Madrid.

Destituída de seres celestiais, está povoada com rostos de expressão humana, que assistem ao milagre do santo.




Ao contrário dos anjos, que não caem do céu, na cúpula - enfaticamente terrena - os homens precisam da grade para se segurarem.



Na presença da turba lisboeta, Santo António devolve a vida ao homem assassinado, para que assim o seu pai seja declarado inocente.









detalhe

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