setembro 28, 2005

Bacchus, de Caravaggio

O característico tratamento da luz, salientada de forma dramática no claro-escuro da obra de Caravaggio (1573-1610) combina em Bacchus-1596, uma realidade simultaneamente estranha e intensamente penetrante.

Bacchus


No período das suas produções em Roma - para onde partiu em 1592 - em que trabalhou sob mecenato, Caravaggio utilizava frequentemente adolescentes nos seus temas.

Este Baco surge, não como deus antigo - na altura traço característico do Maneirismo - mas como uma figura efeminada, de feições algo rudes e olhar pouco expressivo, que nos oferece vinho segurando a taça com as unhas sujas, numa clara expressão do Realismo.


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O fundo escuro, parte integrante do trabalho de Caravaggio, é aqui entendido como forma de espiritualidade associada ao culto do vinho.


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setembro 21, 2005

Vénus e Marte, de Botticelli

A pintura florentina da segunda metade do séc. XV sofreu uma transformação cultural que evoluiu de uma cultura cívica para uma cultura palaciana, em grande medida pelo poder e influência dos Médicis.

Vénus e Marte, de Sandro Botticelli (1445-1510) ilustra essa mudança.

Vénus e Marte, 1480


Vénus, a Deusa do Amor - aqui ricamente trajada e com uma postura vigilante - conquistou Marte, o Deus da Guerra, que - despojado de pensamentos bélicos - dorme no chão, rodeado pelos faunos.
Vénus e Marte refletem o amor espititual, que se sobrepõe à violência.


"O Pensamento Platónico alia-se ao Cristianismo sob a forma de tensão erótica"


É curioso como Vénus, em aparente estado de alerta, tem uma postura algo descontraída, enquanto Marte, com a cabeça reclinada, sugere algum movimento, pela postura dos braços.


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setembro 14, 2005

As Banhistas, de Ingres

Jean-Auguste-Dominique Ingres ( 1780-1867), que elegeu este tema como um dos seus favoritos, expôs a sua obra em simultâneo com o trabalho de Delacroix descrito no post anterior, no Salão de Paris de1824.
Para sua surpresa, foi aclamado como um dos artistas que se opunham ao Novo Romantismo.

A Banhista, 1808

Neste seu primeiro estudo sobre o nú feminino, o apelo estético reside na monumentalização da figura individual.


A Grande Odalisca, 1814

"Quanto mais simples forem as formas, maior a beleza e a força."

O Banho Turco, 1862

Nesta obra-prima realizada nos últimos anos de vida, Ingres retoma as banhistas e odaliscas dos primeiros anos. Os motivos para estas formas femininas idealizadas que vivem apenas para a beleza e prazer, são baseados em relatos pormenorizados do oriente - descrições sobre os banhos no harém de Maomé - e as cartas onde Lady Montagu descreve os banhos turcos.

Pela beleza abstracta, a magnífica pele branca como leite, as formas graciosas dos seus corpos e os seus cabelos e pela sua sensualidade, as banhistas possuem uma inocência paradisíaca, sem gestos ou comportamentos indecorosos entre si.
A beleza intangível das mulheres - suspensa no tempo - é obtida com grande economia de meios, através dos subtis jogos de luz que lhes moldam as formas e a pele.

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setembro 11, 2005

O Massacre de Chios, de Delacroix

A luta grega pela libertação do domínio turco excitou a imaginação dos liberais intelectuais neo-helenísticos europeus.
Eugène Delacroix (1798-1863) escolheu o terrível massacre de Chios, quando 20.000 habitantes das ilhas gregas foram assassinados, como forma de chamar a atenção.

Massacre de Chios, 1824

Delacroix estruturou o plano de pintura em três pirâmides humanas de mortos e moribundos gregos, banhados em luz e côr harmoniosas, tendo-lhe posteriormente acrescentado um brilho difuso.

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setembro 10, 2005

Arte Rupestre do Vale do Côa - Penascosa

Nesta zona de vale mais aberto do rio Côa, forma-se uma praia relativamente extensa, cujas areias poderão estar a tapar mais rochas gravadas para além das que já são conhecidas.
Pela topografia do local, propícia ao estabelecimento de acampamentos, deve ter sido em tal contexto de habitat que tiveram lugar estas actividades artísticas.
Porém, as escavações realizadas revelaram a ausência de níveis arqueológicos que comprovassem tais ocupações, os quais devem ter sido erodidos no início do Holocénico, o período geológico em que vivemos actualmente.
Os depósitos fluviais actualmente observáveis no fundo do vale são relativamente recentes, tendo a sua parte superior sido acumulada apenas no decurso do último milénio.

Penascosa


Boa parte dos suportes das gravuras parece estar num estado adiantado de fragmentação.
Uma vez que há diversos exemplos de gravuras desenhadas de modo a aproveitar os espaços definidos pelos blocos fragmentados, pode deduzir-se que seria já esse o aspecto das rochas no Paleolítico, quando foram gravadas.
Tal como na Canada do Inferno, todas as figuras conhecidas foram feitas sobre as superfícies verticais criadas pela clivagem dos xistos. Para além dos painéis mais conhecidos, com gravuras executadas por picotagem e por abrasão, foram recentemente descobertas algumas rochas profusamente gravadas com motivos filiformes.

Rocha 3

Embora a representação de cavalos e cabras no mesmo painel pareça ser a forma mais frequente de associação entre diferentes espécies animais, a associação cavalo-auroque - típica da arte paleolítica - está igualmente bem documentada.

Detalhe representando movimento (Ver figura no decalque de côr verde)

Fonte dos textos: Parque Arqueológico do Vale do Côa

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